Seminário, debate e entrevista são conteúdos curriculares. Para que todos aprendam a tomar a palavra, é essencial orientar a pesquisa, discutir bons modelos, refletir sobre simulações e indicar formas de registro
Por: Beatriz Santomauro (bsantomauro@abril.com.br)
Quem não apresenta suas ideias com clareza ou defende mal seus argumentos diante um grupo enfrenta problemas tanto na sala de aula como na vida profissional. A escola, no entanto, não tem se dedicado à questão como deve. Embora o ensino da língua oral esteja previsto nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) há mais de uma década, essa prática está longe de ser prioridade. Ela é confundida com atividades de leitura em voz alta e conversas informais, que não preparam para os contextos de comunicação.
"Comunicar-se em diferentes contextos é questão de inclusão social, e é papel da escola ensinar isso", explica Claudio Bazzoni, assessor de Língua Portuguesa da Secretaria Municipal de Educação de São Paulo e selecionador do Prêmio Victor Civita - Educador Nota 10. O que todo professor precisa incluir em seu planejamento são os chamados gêneros orais formais e públicos, que têm características próprias, pois exigem preparação e apresentam uma estrutura específica.
A língua oral está organizada em gêneros (entrevistas, debates, seminários e depoimentos) e o empenho do professor nas aulas deve ser o mesmo dado aos gêneros escritos (contos, fábulas, crônicas, notícias e outros). Assim como não há um texto escrito sem propósito comunicativo, tampouco existe uma só maneira de falar. É preciso criar contextos de produção também para os gêneros do oral - em que se determinam quem é o público, o que será dito e como. "É isso que permite aos alunos se apropriarem das noções, das técnicas e dos instrumentos necessários ao desenvolvimento de suas capacidades de expressão em situações de comunicação", explica Bernard Schneuwly, da Universidade de Genebra, na Suíça, no livro Gêneros Orais e Escritos na Escola.
A diferença entre a língua falada e a língua escrita é uma questão antiga. Até a década de 1980, elas eram consideradas opostas. Enquanto a primeira aparecia como incompleta e imprecisa, a segunda simbolizava formalismo e planejamento. Os debates recentes apontam para um caminho bem diferente. "O oral e o escrito têm pontos de contato maiores ou menores, conforme o gênero", defende Roxane Rojo, docente de pós-graduação em Linguística Aplicada na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
É necessário, portanto, ensinar a preparação de situações de comunicação oral com base num planejamento que requer quatro condições didáticas: orientação da pesquisa, discussão de modelos, análise de simulações ou ensaios e indicação de formas de registro. Veja nas páginas seguintes como desenvolvê-las na produção de entrevistas, seminários e debates.
Seminário
O essencial é selecionar as informações mais importantes e transmiti-las ao público com clareza.
Para que um seminário seja eficiente, o aluno precisa se sentir um especialista sobre o assunto que vai expor e ser claro ao apresentar suas ideias. Ele deve passar ao público o que considera mais importante e, ao tomar o lugar que geralmente é do professor, pensar na melhor maneira de fazer isso.
De acordo com Schneuwly, essa atividade é "um instrumento privilegiado de transmissão de diversos conteúdos", mas, para que seja realmente eficiente, é necessário que "estratégias concretas de intervenção e procedimentos explícitos de avaliação sejam adotados". O pesquisador chama a atenção para essas funções do professor porque, mesmo sendo o seminário um dos gêneros orais mais comuns em classe, ele não recebe a atenção devida a um conteúdo de ensino. "Muitas vezes, o professor propõe um tema e pede que se faça um seminário sobre ele. Esquece-se, no entanto, de que não é possível adivinhar como prepará-lo de maneira adequada", reforça Maria Aparecida de Freitas Cuer, coordenadora pedagógica da EMEF Paulo Duarte, em São Paulo.
Uma boa apresentação começa com a introdução, em que o estudante delimita o que será tratado, legitima as razões de suas escolhas e mobiliza a atenção e a curiosidade dos ouvintes. Ao planejar o que será dito, o apresentador deve tentar antecipar algumas reações da plateia, prevendo o que fará mais sucesso ou será de difícil assimilação e, por isso, necessita de apoio escrito, como números - que devem estar registrados nos cartazes ou slides (conheça na próxima página a experiência da professora Regina Pereira da Silva, que promoveu com a turma um seminário sobre o meio ambiente).
Considerar os conhecimentos e o interesse do público é uma característica dos seminários. É por isso que não basta dizer para o aluno seguir um roteiro e falar continuamente, sem nem sequer notar quando alguns parecem interessados no tema e outros mostram que estão cheios de dúvidas. Provocar os colegas em busca de uma reação, questionar se todos estão entendendo ou colocar uma questão chamando para um debate são maneiras interessantes de interagir.
Não se esqueça de que a turma toda precisa ser orientada quanto à estrutura do seminário, ou seja, a organização do tempo de fala de cada integrante e as regras para a participação dos ouvintes - se podem pedir esclarecimentos durante a fala do colega ou apenas no fim, por exemplo (nesse caso, quem está na plateia anota o que deseja saber e espera para retomar a ideia mais adiante).
Continuação: Artigo do site Revista Escola.
Reportagem sugerida por três leitoras: Salma Marinho Rodrigues, de Bela Vista do Maranhão, MA, Edneia Dias da Rosa, de São Paulo, SP, e Juliana Maria do Rosário, de São Paulo, SP